sábado, 20 de novembro de 2010

Crônicas Omne 1x04

Capítulo 4: Investigação

"Somente os curiosos são merecedores do conhecimento."
O livro da ordem Vol 9 Cap 9


“O que está acontecendo comigo?”
     Gabriel imagina se não estaria sonhando após os eventos recentes, não acredita em milagres, portanto pensa que há algo errado, tentando achar uma forma em como explicar para sua tia sua capacidade de mover-se novamente. O fato é que nem tudo pode ser explicado pela lógica e ainda que possa ferir nossa mente, parte do universo existe somente para ser sentido.
     Ao descer as escadas para sala, Isabel estava assistindo televisão, seu silêncio era em estar pensando o que falar, ao chamar por seu nome, ela nota com espanto e euforia.
“Isto só pode ser um milagre, um milagre do senhor!”
“Tia...não comece...”
“E qual seria a outra explicação para o fato de estar caminhando? Agradeça.”
“Agradecer a quem? Com certeza não estou bem pelo motivo de estar curado do nada.”
“E o que você pode fazer? Nada, não tem como você descobrir o por que de estar curado, somente aceitar este fato.”
“Primeiro eu sou raptado por um homem de máscara assustadora a quadras daqui e depois ele, estranhamente, me solta para acabar sendo atropelado por um caminhão e ficar tetraplégico, e agora estou de pé.”
“Quadras daqui? Gabriel, você foi atropelado na frente da casa.”
“Não me diga que foi só um sonho aquilo?”
“Acredito que você teve sonambulismo naquela noite, entenda Gabriel...”
“Eu não vou aceitar isso.”
     Gabriel retira um casaco e dirige-se à porta quando, ao mesmo tempo, seu tio chega, Isabel persiste.
“Onde você pensa que vai?”
“Descobrir o que está acontecendo.”
“Não mesmo, vai ficar aqui.”
“Você não manda mais em mim.”
“Gabriel, você está...”
“Sim tio, somente a tia não acha estranho.”
“Deixe ele ir Isabel.”
     Gabriel lança uma expressão de agradecimento a Jones, sendo que seu tio somente o pede para tomar cuidado, e então parte.
“Você sabe como as coisas são Isabel, mais cedo ou mais tarde ele acabaria por descobrir a verdade.”
“Só não gostaria que não fosse desse jeito.”
     Foi naquela manhã de céu claro que Gabriel voltara a caminhar pelas ruas, sentia-se estranho e renascido ao mesmo tempo, como se tivesse dado um próximo passo em sua vida. Ainda que não sabia exatamente por onde começar, imaginando se o encontro com Huncamé não passara mesmo de um sonho, decidiu ir até a casa abandonada onde fora sequestrado.
     Ao chegar na casa, notou que estava realmente vazia, não havia ninguém dentro, poderia ser que eles não estariam no momento ou foram embora, mas o odor característico também não estava presente, assim como as pinturas internas diferentes e velhas, chegando a conclusão que realmente foi apenas um sonho. Porém, não desistiu, ainda que não passasse de ilusão Gabriel realmente acreditava que haveria alguma ligação, ocasionalmente, caminhando, encontrou um templo religioso, semelhante a uma capela, o que lhe chamou atenção foi a máscara acima da porta de entrada, idêntica a que Huncamé usava, não poderia deixar de lado e então entrou no local, lembrara um pouco as igrejas católicas, exceto pelos detalhes, como pinturas ao redor representando grandes muralhas e lanças espalhadas pelo corredor, o sacerdote do local estava palestrando.
“Pois ao senhor Emacnu devemos nossas vidas, ele será nosso guia para o paraíso no falecimento de nossos corpos, ele nos representa, nos dá força e mantemos assim o elo com o divino, a entrega de bens materiais a casa nossa que o representa é de vital importância para a iluminação espiritual de vossos caminhos.”
     O absurdo falado indignava Gabriel, mas conseguia controlar sua raiva, notou logo a semelhança entre os nomes Emacnu e Huncamé, voltando a se perguntar se fora realmente um sonho, se retirou do local, voltando para casa.
     No outro dia, voltou para e escola, seus colegas, como esperado, estavam espantados, tentando achar algum modo de não parecer sobrenatural explicou que o motivo de estar caminhando era devido a uma cirurgia que fez na coluna, mas a notícia do momento veio de sua sala.
“Naquela noite que havíamos feito a brincadeira do corpo, Carlos...morreu...”
“O que? Como assim?”
“Uma das palavras formadas na tábua foi morte e então dois tiveram convulsões sendo que um foi muito grave, todos nós ficamos cansados.”
“Eu sempre ouvi falar que a brincadeira do copo podia provocar suicídio, mas não morte...eu...sinto muito...deveria estar lá...”
     Gabriel se sentiu culpado, afinal tinha ensinado a eles como fazer a brincadeira mas não como proceder em caso de problemas, achou muito estranho alguém ter sido morto por uma convulsão provocada por um jogo.
     Em seu quarto, refletia sobre o que deveria fazer, imagina se havia algum grupo que suspeitasse, ou até mesmo investigasse eventos estranhos, realizou várias ligações, procurou pela rede virtual, ainda assim, ninguém sabia, começara a concluir que sua tia era portadora da razão, porém, seu tio entrou no quarto, mostrando uma esperança.
“Como está Gabriel?”
“Com dificuldades, não consigo entender...”
“Você acha que há lógica em todas as coisas.”
“Talvez isso seja um defeito.”
“Não por enquanto.”
     Jones retira um cartão de seu bolso, onde estava escrito Seguidores, e um endereço.
“O que é isso?”
“Sabe...quando eu era jovem, participei de um grupo de pessoas que explorava o sobrenatural, ainda que éramos amadores, obtivemos grande sucesso em alguns casos, o tempo passou e as pessoas com quem trabalhava foram passando seus cargos para filhos, netos, sobrinhos, enfim, para pessoas desta geração, acredito que seja hora de passar para você também.”
“Como eu nunca soube disto antes? A tia sabia?”
“Isabel sabia, mas sempre mantivemos em segredo, só não conte para ela, quando você chegar no local procure por alguém de casaco vermelho com o símbolo de um triângulo estampado no peito, mostre o cartão, diga que fui eu que lhe dei, ele saberá o que fazer.”
“Certo, obrigado tio.”
     Já era noite quando Gabriel chegou no local, era uma boate, na entrada um corredor que subia, onde estava um guarda com um triângulo no peito, mas não estava de casaco vermelho, ele o impediu de entrar, sendo que, ao mostrar o cartão de seu tio, o liberou. O ambiente era escuro e moderno, pessoas dançavam ao som de música eletrônica em uma ambiente esfumaçado por gelo seco, algumas pessoas embriagadas pela bebida, outras não tinham pudor e praticam atos impróprios para o local, não tão estranho, era padrão quando o sol vai embora na cidade.
     O homem do casaco vermelho é encontrado subindo algumas escadas, sentando em uma poltrona, apreciando os prazeres materiais.
“Com licença...você deve pertencer a um grupo chamado Seguidores, correto?”
“Não pertenço ao grupo, sou o líder do grupo, diga logo, o que você quer?”
“Meu tio participou a muitos anos atrás, agora ele me deu este cartão.”
“Ah sim, então o sobrenatural atingiu sua vida, está procurando entendimento, não é mesmo?”
“Exatamente...”
“Bem vindo ao time.”
“Como é?”
“Exatamente o que você ouviu, conheço seu tio Jones, Gabriel Egne, amanhã você começa em um grupo que está iniciando, vai ser interessante.”

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